Voltar
A esperança de uma vida comum

A esperança de uma vida comum

É início da manhã, no meio do outono, em uma praia isolada. A maré subiu, e agora o dia começa com um céu cinzento e pesado, e o ar possui uma limpeza e um silêncio sobrenaturais que seguem uma praia vazia, fora da alta estação. Pode-se ouvir, com uma clareza renovada, as poucas gaivotas ao redor e algumas pessoas passando no calçadão. Estamos acima da cena, na companhia do pintor imaginário, observando a vista de uma janela no segundo andar de uma casa do outro lado da rua.

 

O que chama nossa atenção é uma mulher solitária, vestida de preto, armada apenas com uma vassoura, ou melhor, o garfo praiano, contra a brancura da areia. Há algo silenciosamente heroico em sua presença. Enquanto outros permanecem sensatamente dentro de casa, afinal não é um dia de sol e de praia, ela se aventurou para realizar sua tarefa quase sisífica.

A mulher não é retratada como uma vítima ou uma guerreira; ela simplesmente faz o que precisa ser feito, para deixar aquele pedaço ali na sua frente, mais limpo e bonito, como fizeram bilhões antes e depois dela. Embora careça de qualquer grandiosidade, há, no entanto, uma nobreza distinta em sua figura. Aqui está a humanidade como raramente nos permitimos enxergar: nem triunfante, nem derrotada, mas persistentemente teimosa – apesar de tantos argumentos contra.

 

Talvez o que realmente estejamos contemplando seja um retrato de esperança – o tipo silencioso e diário que nos leva a enfrentar os elementos e as probabilidades desanimadoras. É uma imagem que nos incentiva a sermos um pouco mais gentis conosco e com os outros, a reconhecer que simplesmente continuar, simplesmente aparecer com nossas vassouras inadequadas em um dia qualquer, merece ser contado como uma espécie de vitória. Varremos, mesmo sabendo que, ao cair da noite, o caminho estará coberto de areia novamente.

 

Veja nosso calendário completo de aulas e eventos aqui.

By The School of Life

Compartilhe este conteúdo

Conteúdos Relacionados