11/01/2018
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Viagem como Terapia
Atualmente, estamos acostumados a pensar em viajar como a parte “divertida” da vida, mas não é por ser divertida que não deveria também fazer algumas coisas muito sérias por nós. Em seu nível mais profundo, viajar pode nos ajudar em nossa educação psicológica. Quando abordada do jeito certo, a viagem pode desempenhar um papel crucial e nos ajudar a virar uma versão melhor de nós mesmos. Quando corrige os desequilíbrios e as imaturidades de nossa natureza, viajar revela todo o seu potencial de funcionar como uma forma de terapia em nossa vida.
No entanto, para que tenha um efeito terapêutico, precisamos mudar a forma como escolhemos nossos destinos. Devemos reconhecer que a indústria de viagens nos atende mal nesse aspecto, dividindo o mundo em categorias materiais quase totalmente fora de sintonia com as necessidades da nossa alma. Ela nos dá opções como “diversão ao ar livre”, “aventura para a família”, “fins de semana culturais” ou “refúgios em ilha” – mas não explora exatamente qual pode ser o propósito desses destinos levando em conta o ponto de vista de nossas psiques.
Sem nenhum significado místico nisso, todos estamos envolvidos, de um jeito ou de outro, no que pode ser chamado de “jornada interna”: isto é, estamos tentando nos desenvolver de formas particulares. Podemos buscar uma maneira de ficar mais calmos ou de repensar nossas metas, ansiar por mais confiança ou por uma fuga dos sentimentos debilitantes da inveja.
Idealmente, aonde vamos deveria nos ajudar em nossas tentativas desses pedaços desejados de evolução psicológica. A jornada externa deveria nos ajudar na interna, mas, para que isso aconteça, precisamos ter mais claro o que estamos buscando dentro de nós e o que o mundo externo realmente pode nos entregar.
Em parte, isso exige que olhemos para o mundo de um jeito novo. Todo destino que considerarmos tem qualidades, ou mesmo virtudes, que poderiam apoiar um ou outro movimento na jornada interna de alguém. Há lugares que podem ajudar com a timidez e outros com a ansiedade. Alguns lugares podem ser bons para reduzir o egoísmo e outros, para nos ajudar a pensar mais claramente no futuro.
Ninguém escreveu ainda um atlas psicológico do mundo, descrevendo as chamadas virtudes psicológicas dos lugares, mas este é um projeto que precisa ser realizado urgentemente. Esse atlas alinharia destinos com seu potencial interno. Por exemplo, veríamos que o deserto de Utah é um destino físico – formado por pedras em tom rosa de 200 milhões de anos que se estendem longamente – e psicológico: capaz de funcionar como uma assistência para a perspectiva, um auxílio para se afastar de preocupações desimportantes e mesquinhas rumo a um lugar de maior calma e resiliência.
No futuro, idealmente seríamos viajantes mais conscientes – sabendo que buscávamos lugares que poderiam oferecer virtudes psicológicas como “calma” ou “perspectiva”, “sensualidade” ou “rigor”. Um visitante do Vale dos Monumentos não teria apenas um pouco de “aventura” indefinida, algo para aproveitar e, então, esquecer gradualmente duas semanas depois; viajar ao lugar seria uma ocasião fundamentalmente para reorientar sua personalidade. Seria um chamado às armas para se tornar uma pessoa diferente: uma peregrinação secular de 8.000 km por R$ 3.000 que seria ancorada adequadamente em torno de um desenvolvimento profundo de caráter.
Viajar não deveria ser permitido para fugir da seriedade fundamental da área da vida com a qual isso lida. Sempre precisamos buscar lugares no mundo externo que possam nos empurrar rumo a onde precisamos ir dentro de nós.
A Arte de Viajar Revisitada – 8 de novembro – ingressos