03/29/2019
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Crise Profissional?
Poucas questões são mais difíceis ou solitárias do que “o que eu devo fazer com o resto da minha vida produtiva?”. Muitas vezes, espera-se que simplesmente saibamos a resposta – e muita gente tende a contar que continuemos seguindo pelo caminho seguro e previsível.
Mas, lá no fundo, alguns de nós tem perfeita consciência de não estarmos muito felizes onde estamos e adoraríamos encontrar um caminho que nos levasse a um trabalho que realmente satisfizesse a nossa alma.
É tentador que muitas das respostas de que precisamos para direcionar melhor nossos futuros já estejam dentro de nós, mas precisamos de auxílio para ajudá-las a sair, para dar algum sentido a elas e reuni-las em um plano.
Este é um conjunto de ensaios e sugestões para nos ajudar a aprender mais a respeito de nossas identidades de trabalho e para nos orientar com habilidade rumo aos tipos de trabalho de que precisamos para prosperar e honrar nossos talentos.
1. Por que agora?
Contexto
“Crises” de carreira tendem a acontecer em momentos específicos – por motivos que não necessariamente compreendemos em sua totalidade, mas que devemos estudar com bastante atenção.
Por mais válido que seja examinar as especificidades de nossos enigmas profissionais, também vale recuar um pouco para nos perguntarmos por que uma insatisfação pode ter ocorrido nesse momento específico.
Um forte desejo de encontrar uma nova identidade profissional pode – de maneira tortuosa – estar relacionado a uma infelicidade em nossa vida sexual ou a uma tristeza por nossos filhos estarem prestes a sair de casa.
Urgência
Frequentemente, sofremos não apenas de um desejo de mudar de emprego, mas de uma sensação apavorada de que precisamos nos mexer agora, mesmo quando, objetivamente, não exista uma necessidade financeira ou prática de fazer isso.
A mente passa a considerar que, ao se adotar um determinado curso de ação, ao “fazer alguma coisa agora”, nós nos livraremos do que parece ser uma agonia subjacente ou claustrofobia.
A dificuldade de pensar
Uma das características frustrantes das nossas mentes é que quanto mais significativos são nossos pensamentos, mais eles têm a tendência de escapar do nosso alcance. Pensar em nossas carreiras é de fato muito difícil, porque tende a induzir uma intensa ansiedade em relação ao valor de nossas vidas e a escala dos desafios que temos diante de nós.
A agonia da escolha
Muitos dos motivos pelos quais não avançamos é porque temos muito medo de escolher – e porque, implicitamente, acreditamos que possa haver algo como uma escolha perfeita e sem custos e, por extensão, uma vida impecável.
Para nos liberarmos a seguir em frente, devemos aceitar – com grande coragem – a inevitabilidade da dor relacionada à escolha.
2. IMAGINE
Infância
Muitas das melhores pistas do que poderíamos fazer no mundo podem ser encontradas em um período em que basicamente não pensávamos em trabalho. A infância nos fornece um depósito especialmente valioso de ideias profissionais porque é abençoadamente livre de muitos dos elementos que mais tarde vieram a inibir ou distorcer nossos verdadeiros interesses.
Um self futuro
Nossa imaginação tende a ser tão intimidada pelos aspectos práticos necessários para que mudemos nossas vidas que nos inibimos quanto a visualizar adequadamente o futuro que procuramos ostensivamente. Estamos tão preocupados com os próximos três movimentos que podemos fazer (e todos os desafios envolvidos em, digamos, um pedido de demissão, uma volta aos bancos escolares etc.) que não exploramos com riqueza como nossas vidas podem realmente ser se tudo acontecer conforme estamos esperando.
Sucesso
Surpreendentemente, talvez, nosso desejo de fazer uma mudança em nossa carreira é frequentemente movido por já termos obtido sucesso suficiente em uma área ou outra, mas quem sabe então termos nos entediado ou ficado insatisfeitos ao descobrir que o sucesso não era exatamente o que imaginávamos.
Depois da loteria
Operamos em sociedades em que a vasta maioria das pessoas diz a si mesma que trabalha por apenas um único motivo: dinheiro. Às vezes, isso pode ser verdade, mas é raro que alguém trabalhe apenas por dinheiro – e a natureza aparentemente sensata desse motivo tende a mascarar uma variedade de outros motivos mais fascinantes e emocionais que abrigamos para conseguirmos trabalhar todos os dias.
Antes de fazer qualquer movimento radical, devemos nos perguntar o que faríamos se ganhássemos na loteria.
3 – A armadilha do dever
Todo o sistema educativo recompensa o dever e tende a nos encorajar a esquecer nossos verdadeiros desejos. Depois de anos na escola e na universidade, muitas vezes não conseguimos conceber como perguntar a nós mesmos com força bastante o que desejaríamos de verdade fazer com nossas vidas. Não foi como aprendemos a pensar. A regra do dever tem sido a ideologia dominante em 80% do nosso tempo no planeta – e já se tornou nossa segunda natureza. Estamos convencidos de que um bom trabalho deve ser basicamente aborrecido, cansativo e chato. Por que outro motivo alguém nos pagaria para fazê-lo?
A síndrome do impostor
Em muitos desafios – pessoais e profissionais – somos contidos pela ideia incapacitante de que pessoas como nós jamais poderiam triunfar considerando o que sabemos a respeito de nós mesmos: o quanto somos realmente burros, ansiosos, desajeitados, broncos, vulgares e aborrecidos. Deixamos a possibilidade de sucesso para os outros, porque não somos nada parecidos com o tipo de pessoas que vemos sendo elogiadas ao nosso redor. Nós nos sentimos como impostores, não por sermos exclusivamente imperfeitos, mas porque não conseguimos imaginar o quanto todo mundo é profundamente imperfeito por baixo de uma superfície mais ou menos polida.
Inveja
Um dos melhores guias para descobrir o que fazer com nossas vidas também é uma das emoções mais vergonhosas e tabu: a inveja. Embora seja desconfortável, encarar a inveja é um requisito indispensável para determinar um plano de carreira. A inveja é um apelo à ação a que deveríamos prestar atenção, contendo mensagens distorcidas por partes importantes de nossa personalidade em relação ao que desejamos fazer a seguir.
4 – DEIXAR PARA LÁ
Processar o passado
Uma coisa que podemos perder quando mudamos de trabalho é a complicada verdade traiçoeira de que tivemos de mudar de curso porque, de uma maneira ou outra, algo deu errado.
Autoafirmação
Quando enfrentamos dificuldades profissionais, é fácil ficar cada vez mais melancólico quanto à nossa situação: fracassamos, não temos talento, não temos a imaginação ou a percepção necessárias…
A maioria de nós tem graus avançados em autodestruição e desconfiança de nós mesmos. Na realidade, odiar a si mesmo não é um guia para qualquer tipo de verdade, mas apenas um caminho para oportunidades perdidas.
O status quo
Vivemos em um mundo que não vê com muitos bons olhos pessoas que não avançam. Metáforas de carreira tendem a ter a mobilidade radical incorporada a elas: são caminhos e escadas, novos horizontes e trajetórias arrojadas.
Essa costuma ser uma postura extremamente útil (nos dando coragem e combatendo a timidez inerente), mas que também pode ser meio obtusa. Existem situações em que podemos ter a sensação genuína de que não estamos no trabalho certo e temos a ideia de que seguir em frente é a única opção.
Evolução
Alguns dos motivos pelos quais consideramos difícil avançar em nossas carreiras é que imaginamos a mudança em termos excessivamente dramáticos. Ou ficamos parados, ou precisamos vender a casa, voltar à universidade por cinco anos, perder nossos amigos e sacrificar nossas horas de lazer…
Quando a oposição é tão gritante, não é de admirar que acabemos emperrados, muitas vezes contra nossa própria vontade. Uma abordagem mais útil é pensar em grandes mudanças acontecendo através de passos muito pequenos e alterações muito graduais: isto é, em termos de evolução, em vez de revolução.
Sem fixação
Quando planejamos uma nova carreira, costumamos ficar incondicionalmente fixados em um tipo de trabalho de que acreditamos precisar acima de todos os outros. Nossas escolhas tendem a refletir ideais populares de um “bom trabalho” e, por esse motivo, são muitas vezes excessivamente sobrecarregados ou extremamente inseguros. A solução para essas fixações está em compreender mais de perto o que realmente nos interessa além do título do trabalho que desejamos.
Modelos familiares
Durante a maior parte da história humana, o destino de trabalho de cada nova geração era automaticamente determinado pela geração anterior. Alguém se tornava agricultor ou soldado como pai ou costureira ou professora como a mãe. Hoje, pelo menos na superfície, todos são livres para escolher fazer o que quiserem. As famílias não devem interferir – e a maioria não interfere. Não abertamente, pelo menos.
No entanto, muitas das nossas inibições em torno de nossos movimentos profissionais podem ser rastreadas até a influência subterrânea dos modelos parentais. Sob a superfície, somos guiados por uma percepção inconsciente do que agradaria àqueles que amamos e ainda queremos – talvez apesar de tudo – impressionar e encantar.
Pensar na morte
Uma mudança de carreira é assustadora. Para ganharmos confiança, devemos insistir mais em algo ainda mais assustador: em quanto tempo estaremos mortos. Junto a essa ideia apavorante, o ligeiro desconforto de mudar de emprego ou de se recapacitar será – redentoramente – revelado como essencialmente trivial e facilmente superável.
A morte também deve nos libertar um pouco para não nos importarmos tanto se atingirmos obstáculos em empreendimentos mais ambiciosos, pois, se tudo está mesmo condenado a terminar na sepultura, talvez não importe muito se fracassarmos completamente. Pensar na morte pode ser ao mesmo tempo aterrorizante e o precursor de um tipo distinto de despreocupação e irresponsabilidade.
Texto do The Book of Life
Tradução de Cássia Zanon
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