Há uma pergunta particularmente desconfortável que devemos fazer para medir nossos níveis de bem-estar emocional: você sente que tem o direito de existir e é, no frigir dos ovos, um ser humano suficientemente bom? Seja lá qual forem suas circunstâncias externas e conquistas, você geralmente sente que não vale nada, que passa a vida iludindo os outros e que está a um ou dois passos da humilhação e da catástrofe merecidas?
É, de certa forma, extraordinário ver quantos de nós respondemos instintivamente “sim” à segunda pergunta; em outras palavras, quantos de nós estão vivos sem uma noção de que temos qualquer mérito legítimo. As estatísticas sobre suicídio revelam algo triste sobre as nossas sociedades, mas os números sobre auto-ódio violento, do qual se estima que uma a cada quatro pessoas sofra, diz algo provavelmente ainda pior. Se víssemos um estranho ser tratado da mesma forma que tratamos a nós mesmos, não hesitaríamos em chamar isso de crueldade deliberada.
Um detalhe curioso sobre não gostar de si mesmo é que geralmente não notamos que fazemos isso. O sentimento irradia para diversas áreas: se uma pessoa lhe faz um elogio, você imediatamente duvida da inteligência dela. Quando alguém se oferece para te amar, você questiona por que ele é tão fraco. Quando você está preso em um relacionamento frustrante, na vida pessoal ou profissional, permanece nele (se necessário, por décadas), porque, afinal, é isso o que merece. Há uma voz em sua cabeça lhe acompanhando em todos os desafios e dizendo que você não conseguirá.
A salvação começa com uma visão aparentemente óbvia, mas que deve ser escrita em letras garrafais no céu: ninguém nasce gostando de si mesmo. Nossa noção de nós mesmos é moldada pelas reações daqueles ao nosso redor no começo. É possível deduzir tudo o que seja vital fazendo uma pergunta muito simples a nós mesmos: gosto de quem sou?
Precisamos começar a notar como somos contadores de história injustos e aprender uma arte vital, da qual muita coisa boa pode fluir: a de sermos favoráveis a nós mesmos.
Texto do The Book of Life
By The School of Life
Compartilhe este conteúdo