09/15/2020
Autoconhecimento, Todos
Por Que Precisamos de Dias Tranquilos
Manter-se ocupado. Esse parece ser o ideal dos bilhões de habitantes do planeta, incluindo os bem-sucedidos. Essa prática tem se instalado nos últimos dois séculos, como um culto que se espalhou rapidamente por todo o mundo, buscando dominar e controlar cada momento de nossas vidas. Não se trata de um dogma religioso nem um credo político, mas um único e notável ideal.
Esse ideal tenta nos fazer acreditar que uma boa vida é permeada por atividades contínuas e empenho, além de ser essa a única maneira digna de uma pessoa capaz e inteligente viver. Partindo desse princípio, seria necessário tentar realizar cada ambição de maneira incansável; cada hora do dia e da noite deveria ser repleta de atividade intensa – mesmo em meio a uma pandemia mundial.
Ainda que nossos dias movimentados não sejam tão caóticos, seguimos nessa direção. Como consequência se não chegamos lá, somos induzidos a crer que não tentamos o suficiente e que, de certa forma, o que nos resta é nos esforçarmos ainda mais e arranjar mais coisas para fazer todo dia.
Deveríamos buscar meios de nos sentirmos satisfeitos e contentes com nossas vidas movimentadas, em vez de ficarmos permanentemente nervosos e esgotados, embora tomemos o cuidado de esconder isso o máximo possível dos outros e de nós mesmos. Em alguns casos mais extremos, ficamos à beira do colapso ou um pouquinho além desse ponto, descarregando essa tensão em pessoas próximas.
Nem sempre somos capazes de dar conta de tudo e não há problema nessa realidade. A questão é que nosso culto a uma vida ocupada exige assumirmos mais responsabilidades do que podemos, somos induzidos a ignorar ou negar nossa fragilidade real até sofrermos um esgotamento que nos levem a pensamentos, atitudes ou escolhas inadequadas.
É nesse momento que começamos a procurar uma vida mais tranquila…
Dias simples, em que pouca coisa acontece e nos quais aparentemente não fazemos nada podem ser profundamente frutíferos, ainda que as pessoas ocupadas considere esses momentos chatos e um desperdício.
Assim como na vida movimentada, um dia tranquilo perfeito pode começar cedo. Pela janela, vemos o amanhecer colorir o céu de maneira lenta, acima das casas, do outro lado da rua. Passamos, então, parte da manhã organizando o armário e partes da casa. Esticamos lençóis, empilhando mantas, organizamos alguns cômodos e , finalmente, trazemos ordem e harmonia a nossa existência doméstica.
Enquanto realizamos nossas tarefas simples, podemos “desembaraçar” nossos pensamentos e sentimentos. Por outro lado, quando estamos preocupados, não notamos os detalhes de nosso estado emocional ou o que está acontecendo no nosso subconsciente. Longe da agitação, é mais possível questionar: por que nos desentendemos com aquele amigo no ano passado; qual era o real sentimento que nos unia; de quem, realmente, gostaríamos de ser amigos; o que nos atrai nessa pessoa…
À tarde, faríamos uma longa caminhada sozinhos. Passaríamos por um velho prédio que mal notamos em outras oportunidades. Veríamos o quanto ele está gasto pelas ações do sol e da chuva. Talvez, pensássemos algo como: há quanto tempo está ali ou o que aconteceu com as pessoas que o construíram? Provavelmente era um tanto sóbrio e áspero originalmente – o tempo foi gentil com ele.
Nesse caminho, pararíamos para observar atentamente uma árvore: os galhos parecem secos, mas de perto conseguimos ver as primeiras pontinhas verdes começando a surgir de alguns dos nós marrons. Antes, só notávamos as grandes mudanças; agora, percebemos as belas modificações nos detalhes, realizadas dia a dia, resultados da transição entre uma estação e outra.
Em nossos dias tranquilos temos o tempo e a paciência para perceber o que parecem ser, inicialmente, pequenas fontes de prazer. À medida que as apreciamos, vemos o quanto realmente são grandes e comoventes – e o quanto perdemos quando, em nosso período mais ocupado, tentamos fazer tudo.
Depois de um jantar leve, tomaríamos um banho quente. Enquanto o corpo relaxa e a mente acalma, meditaríamos sobre o que realmente queremos fazer com a nossa vida. Em vez das aspirações convencionais que nos moviam, ficamos sensíveis as nossas próprias ambições autênticas. Poderia ser bom aprender a desenhar; estreitar a relação com a nossa mãe; encontrar um trabalho que nos dê mais satisfação; se abrir para a ideia de que um relacionamento possível pode ser realmente proveitoso.
Começamos a olhar com mais carinho para as nossas necessidades e os nossos anseios, começando a pensar em como eles podem ser incorporados a nossa realidade.
Texto da The School of Life
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